sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Karate: Graduações



As graduações, as quais, representam a divisa do praticante, são traduzidas através de uma peça de vestuário, que além de acessório, é simultaneamente, útil e honorífico: o cinto (Obi).
No Japão, como de resto em toda a parte, repartem-se todos os ensinamentos em graduações de conhecimento e perfeição. Em determinadas Artes Marciais, no Karate, por exemplo, existem nove classes (kyu), havendo outras, porém, como o Judo ou o Aikido, onde existem apenas seis, é conforme. E isto para praticantes iniciados, porque para os praticantes avançados existem dez níveis (dan). Quando se inicia o estudo de uma arte marcial recebe-se um cinto, ùnicamente para segurar o fato (Gi): este é sempre de cor branca. É-se então considerado um Neófito. Conforme se vão assimilando as técnicas e nos vamos familiarizando com a arte, passamos sucessivamente pelos graus mais avançados.
No Japão é-se autorizado, a partir de terceiro kyu, a deixar o cinto branco em casa e a usar um cinto de côr castanha. Na Europa, o Mestre japonês Mikonosuke Kaiwashi, por razões pedagógicas, próprias dos ocidentais, criou um sistema de cintos diferentemente coloridos, para cada kyu. É por isso que o neófito, depois de dois ou três meses de esforço no Dojo, se vê promovido ao kyu procedente. Receberá então, depois de um exame, a autorização de utilizar um cinto de côr amarela. Mais tarde, a cada etapa de kyu, ele verá serem-lhe atribuídos, sucessivamente, os cintos laranja, verde, azul, vermelho, (este, só em Karate-do), e por fim, o cinto castanho. Fica-se então candidato ao título de Graduado.
Há uns anos a esta parte, na Europa, e restante mundo Ocidental, chamava--se a um Graduado cinto castanho de "Expert em Artes Marciais", (perito ou experiente em artes marciais), o qual, na realidade, pouca experiência tem, dado que é uma posição extremamente ingrata, pois encontra-se no limiar da realidade. Tudo o que ele precisa é de treino assíduo, de esforço e de espírito, para alcançar esta posição. Fará então, em seguida, um exame muito severo ante os seus superiores, que o julgarão, não só técnicamente, mas também, face ao seu passado de praticante, à sua moralidade, e a outros elementos, que só aos Mestres compete julgar. Depois, ultrapassadas todas estas provas, o praticante conquista por fim o famoso Cinto Negro!
Ainda há vinte anos, ser praticante «cinto negro» na Europa, era, em matéria de Artes Marciais, o "nec plus ultra". Hoje, aproximamo-nos mais da realidade nipónica. Ser cinto negro constitui, claro, um magnífico resultado. É preciso muito esforço para o conseguir. Mas não é mais que uma primeira etapa, um primeiro passo, para a longa caminhada para a perfeição. Assim, as graduações de principiantes, ao serem de ordem decrescente, têm como objectivo a eliminação de defeitos da nossa personalidade, enquanto que as graduações superiores são de ordem crescente, tendo como objectivo cultivar, tanto o corpo como o espírito, numa via mais correcta, mais harmoniosa e mais simples, de acordo com os princípios da Natureza e do Universo.
Existem, teóricamente, dez dan(s) em Artes Marciais. Logo que um cinto castanho completa os seus exames de passagem de graduação, é promovido a «cinto negro» 1º. Dan (Shodan). Seguidamente, treinando-se sériamente, passando provas após provas, ele ascenderá ao grau de 2º. Dan (Nidan), depois, ver-lhe-á ser atribuído, sucessivamente, o grau de 3º. Dan (Sandan), seguindo-se-lhe o 4º. Dan (Yodan), o 5º. Dan (Godan), etc., e como não existe perfeição neste mundo, também não existe, pois, limite para estes graus.
É muito possível que um 10º. Dan, por uma prática assídua, chegue a uma tal perfeição que lhe seja outorgado o 11º. Dan. Alguns dos fundadores de determinadas Artes Marciais, nomeadamente: Gichin Funakoshi – Karate-do, Jigoro Kano – Judo  e  Morihei Ueshiba – Aikido, entre outros, receberam, a título póstumo, a graduação de 12º. Dan, «Shihan», isto é, “Mestríssimo”.
A este nível, todos os graduados trazem o cinto negro, tanto no Dojo, em treino, como em cerimónias, competições, etc. Mas logo que o titular dum 6º. Dan ou 7º. Dan assiste a uma cerimónia congénere, este usará um cinto vermelho-branco, isto é, pedaço vermelho, pedaço branco, alternadamente.
Para o 8º. Dan, e seguintes, o cinto de gala é todo vermelho, e largo. Para o 12º. Dan, considerou-se que o titular de uma tão extraordinária distinção atingiu um tão alto nível, que ultrapassou todas as categorias. Assim, ele voltará "às origens", usando um cinto branco (!). Mas para que certos neófitos não se enganem, este distintivo será o dobro em largura, relativamente, ao dos iniciados.
Para terminar, será talvez útil dizer, a fim de evitar alguma desilusão, que toda uma vida inteiramente consagrada à prática das Artes Marciais, mal chega para alcançar os mais altos, e honoríficos graus.
Sómente, aqueles indivíduos, excepcionalmente dotados, como Sensei Masatoshi Nakayama que morreu com 9º. Dan, ouSensei Hirokazu Kanazawa, actualmente com a graduação de 10º. Dan, ou Sensei Kase, com 9º. Dan, ou ainda, SenseiHidetaka Nishiyama, também com 9º. Dan, e isto, só para citar, apenas, alguns exemplos, indivíduos esses dotados de um espírito e de um esforço, tenazes, quase sobre-humano, que conseguiram alcançar estas nobres posições.
Sabe-se pois, que dois a três anos de trabalho árduo, é o mínimo que se requer para alcançar o 1º. dan, e que os períodos de estágio para cada nível superior, aumentam progressivamente.
Quanto aos graus superiores, e desde que existem os 10º. dan(s), nunca houve mais que dois ou três, em simultâneo. São exemplo disso: Sensei Gogen Yamagushi – Goju-ryuSensei Shinkin Gima – Shotokan, e ainda, Sensei Kenwa Mabuni –Shito-ryu, todos eles já falecidos.
De que serve sonhar, quando se sabe que, só no Japão, existem cerca de, mais de quinhentos mil cintos negros, de entre os mais variados graus e títulos(!).
Há já muito tempo que o «mito» do cinto negro perdeu o seu significado na Europa. Não nos devemos esquecer, porém, que as graduações não são o objectivo da prática do Karate-do, da mesma forma que, não é a cenoura que faz avançar o burro. O que é importante no cinto é apertar o nó da nossa vontade e empenharmo-nos até ao fim na Arte que escolhemos.
A tradição é importante na prática do Karate-do. É preciso prendermo-nos ao "Estado de Espírito" dos grandes Mestres, os quais, nos precederam no estudo da Via (DO), por eles transmitida.
Segundo a opinião do «Grande Mestre» Gichin Funakoshi (1869 – 1957), fundador do Karate-do, no Japão, como atrás foi referido; grande Mestre de Artes Marciais (BUDO), a sua modéstia e humildade podem bem representar as realizações de um «Homem na Via» (DOJIN).
Numerosas histórias circulam sobre ele. Eis uma, cujo sentido é mais que evidente, e apropriado, do estado de espírito que convém adoptar para, aquando das passagens de graduações.
Perguntaram um dia ao Mestre Funakoshi, o que poderia distinguir um homem normal daquele que seguia a Via, numa procura interior, e do qual o Mestre tinha o costume de falar a todo o momento, ao que o Mestre respondeu:
"Quando um homem comum é aceite para exame de 1º. dan (shodan), ergue-se com firmeza, frente aos membros do Jurí, e depois, corre a anunciar a boa-nova à sua família.
Quando obtém o 2º. dan (nidan), sobe ao lugar mais alto que pode encontrar, para gritar em redor, a distinção que acaba de obter.
Assim que passa a 3º. dan (sandan), ou mais, salta para o seu carro e atravessa a cidade frenéticamente, para festejar o acontecimento, etc.
Um homem que sabe reconhecer o «Do», a Via, age diferentemente: ao receber o Shodan, inclina a cabeça em sinal de reconhecimento ao seu Mestre.
Ao receber o Nidan, curva-se perante o seu Mestre um pouco mais ainda, em sinal de humildade.
Assim que recebe o seu Sandan, ou mais, inclina-se "até ao chão", confuso, antes de desaparecer discretamente.
Todo ele mede agora, o que o separa da verdadeira perfeição!"
retirado do site: 

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE KARATE SHOTOKAN